“Ô, abre alas, que eu quero passar!”: o carnaval chega à sala de aula!

Pandeiro, cuíca, ritmo, fantasia, alegria… o carnaval é uma das festas mais ricas e complexas da cultura brasileira. E não apenas pelas cores, pela dispersão geográfica, irreverência ou criatividade: na verdade, o carnaval tem uma história muito antiga, mais antiga que a própria fundação do Brasil. Além disso, ele reúne e harmoniza elementos dos três grupos humanos formadores da nossa sociedade: indígenas, africanos e europeus.
Em outras palavras: uma festa tão importante é, também, um “prato cheio” para a educação! Assumindo o espírito carnavalesco, é possível compartilhar muitos conhecimentos com os alunos. Da Educação Infantil ao Ensino Médio, todos vão se divertir… e aprender!

“Confete, pedacinho colorido de saudade…”: memórias de carnaval

Um bom início de trabalho sobre o carnaval pode envolver as memórias das pessoas. Assim, pergunte aos alunos sobre como eles e suas famílias vivenciam a festa. E não há problema se, por acaso, alguns eles não tiverem essas memórias por questões relacionadas à religião, por exemplo, ou apenas por não gostar da festa. Essa é uma boa oportunidade, inclusive, de trabalhar a diversidade, assim como o respeito e o acolhimento às diferentes opiniões.
Em relação às memórias carnavalescas, elas podem se estender à família, aos pais ou avós, por exemplo. Vale lembrar ainda que, em várias regiões do país, as festas carnavalescas estão fortemente relacionadas à cultura local – caso, por exemplo, dos maracatus e do frevo em Pernambuco -, o que dá ainda mais cor às discussões.

Como tudo começou

As origens do carnaval ser situam em um passado muito remoto. A festa, incorporada pela cristandade europeia há muitos séculos, na Idade Média, tem elementos ainda mais antigos. Há quem afirme, por exemplo, que uma festa semelhante, caracterizada pela inversão de valores (com o rei se vestindo de servo e o servo de rei, por exemplo), teria surgido na Babilônia há milhares de anos.

Dito isso, podemos passar ao “resgate histórico” do carnaval:

1. Apresente uma linha do tempo sobre a História do carnaval. Mostre aos discentes como a festa chegou ao Brasil em meados do século XVII, sob influência das festas da Europa. Aqui, dependendo do nível de ensino, você pode até detalhar as origens psicossociais da festa, mostrando, por exemplo, as ideias de inversão e catarse (a este respeito, vale a pena conhecer a teoria da carnavalização de Mikhail Bakhtin).
2. Mostre imagens e vídeos de personagens famosos do nosso carnaval, como o rei momo, pierrô e colombina, que têm origem europeia. As influências, aqui, são muitas, do teatro italiano à corte francesa de Luís XIV, passando pelos bailes de máscaras de Veneza… é muita coisa interessante!
3. Também é importante contar que, no século XVII, foram criados os primeiros blocos de carnaval, mas que eles só se popularizaram no século XX.
4. Mostre ainda a origem das fantasias, que, assim como a decoração dos carros, ocorria de forma espontânea. Essa “improvisação” deu origem aos famosos carros alegóricos que temos atualmente.
5. Leve áudios de marchinhas para apresentar o gênero e mostrar que esse estilo musical contribuiu grandemente para a aceitação popular. Leve materiais para apresentar a primeira escola de samba, criada em 1928 no Rio de Janeiro – era a “Deixa Falar”, que, mais tarde, virou “Estácio de Sá”.
6. E, por fim, não deixe de mencionar como se deu o surgimento e as primeiras competições das escolas de samba em São Paulo e no Rio de Janeiro. E que, em outras regiões do país, se mantiveram os tradicionais carnavais de rua, com blocos e agremiações.

Os carnavais pelo Brasil

É possível que muitos alunos observem que, em sua região, em sua cidade, não existe carnaval. Isso não invalida a ideia de apresentar a festa em toda a sua grandeza, até mesmo porque em nosso país – e no mundo – há muitos carnavais. Dos bailes de salão aos trios elétricos, dos concursos de fantasias aos maracatus, são muitas as possibilidades! Vamos examinar por região do Brasil:
● Carnaval na região Sul: No Sul, principalmente em Florianópolis e em outras cidades litorâneas, há uma grande mistura de elementos, como desfiles de escolas de samba, clubes, blocos de rua e festas com DJs.
● Carnaval na região Sudeste: Desfiles das escolas de samba nos sambódromos Anhembi e Marquês de Sapucaí que são transmitidas na TV. Também há blocos de rua e festas particulares em clubes. Tudo com muita música, samba e marchinhas de carnaval.
● Carnaval na região Centro-Oeste: É em Goiás que ocorre uma das principais festas do Centro-Oeste. Há marchinhas, shows de várias bandas e desfiles de escolas de samba.
● Carnaval na região Nordeste: Temos variadas formas de comemorar o carnaval no Nordeste. Na Bahia tem os trio-elétricos e mais de 150 blocos organizados. O famoso carnaval de rua atrai cerca de 2 milhões de pessoas.
Muito além dos bonecos, o carnaval de Olinda, assim como o de Recife, se destaca pelas manifestações de dança e música. Em ambos, temos o Frevo e o Maracatu (uma mistura das culturas africana, portuguesa e indígena). Além é claro, dos blocos de rua.
● Carnaval na região Norte: Outro ponto interessante de levar para a sala de aula é o fato das festas no Norte estarem ligadas ao folclore. Em Manaus na mesma época acontece a Festa do Boi (Boi-Bumbá) e o aniversário da cidade.
São três dias de festa onde o público dança coreografias únicas ao som das tradicionais músicas de influência indígena e veste os tururis (abadás).

Como apresentar o carnaval e seus elementos?

Depois de apresentar a História do carnaval e suas diferentes manifestações no Brasil, é hora de aplicar atividades que coloquem os estudantes em um contato maior com o assunto.
Como essa festa tão marcante da cultura brasileira é formada por blocos, desfiles de escolas de samba, fantasias, músicas, marchinhas, danças, fantasias, personagens como a colombina e muito mais, é fácil perceber que este grupo de elementos não se encaixam em uma única disciplina, certo?
Inclusive, já mencionamos anteriormente que é possível trabalhar aspectos históricos, artísticos e da linguagem utilizando o carnaval como pano de fundo.
Mas, mais importante do que trabalhar em cada uma dessas disciplinas, deve-se trabalhar de forma interdisciplinar. Desse modo, ele não será estudado a partir de uma único componente curricular, mas de vários e em diálogo.
Então, ao explicar o tema e aplicar as atividades, tenha em mente trabalhar o carnaval de maneira a explorar diferentes temas, sempre em contexto.
Pensando nisso, algumas das formas de ensinar e aplicar atividades são:

Ideias para apresentar o tema carnaval

● Apresentação de imagens e vídeos.
● Sugestões de artigos, livros, sites, vídeos e músicas.
● Pergunte aos estudantes o que eles sabem sobre a festa a partir de um bate-papo.
● Leve áudios e letras de músicas, samba-enredo e marchinhas de carnaval para que além de ouvir e conhecer, os estudantes também possam analisar a letra e seus significados. Aqui é possível trabalhar linguagem, musicalidade e História.

Atividades para trabalhar o carnaval em sala de aula

● Solicitar a montagem de uma linha do tempo da História do carnaval e sua evolução.
● Propor a apresentação e grupos sobre o carnaval em cada região a partir de fotos e vídeos da festa.
● Propor atividades que envolvam dança, assim, além de aplicar danças e coreografias típicas do carnaval, também é possível trabalhar a coordenação motora e a linguagem corporal.
● Aplicar atividades que envolvam a construção de máscaras e fantasias, de modo a trabalhar também a coordenação motora e a criatividade. Uma boa ideia é criar e imprimir máscaras de carnaval para serem coloridas pelos discentes. Utilize também recortes, tecidos, glitter, purpurina, lantejoulas e afins.
● Peça às crianças que criem murais e painéis decorativos sobre o carnaval.
● Tire um dia para montar uma oficina de desenho e pintura.
● Crie exposições que mostram os trabalhos criados.
● Abordar a musicalidade por meio de sambas, batuques e demais aspectos musicais do carnaval.
● Estimular estudos da Língua Portuguesa por meio de sambas-enredos famosos do carnaval carioca; apresentação do gênero marchinhas – por exemplo, “Ó abre alas”; Maracatu e Afoxé (manifestação cultural da Bahia que une música e religião).
● Proponha desfiles em algum espaço escolar mais amplo.
● Promova uma comemoração e peça aos estudantes que decorem a escola.

Seja por meio de histórias, vídeos, músicas, apresentações, desfiles improvisados, oficinas de pintura, o mais importante é que os estudantes conheçam a riqueza cultural brasileira.
Ao trazer ritmos e grupos específicos de cada região, por exemplo, é possível trabalhar aspectos como diversidade e religião. Ainda sobre o carnaval brasileiro de norte a sul, é fundamental trazer a festa do Norte como pauta. A festa do Boi e a maneira como ela ocorre, juntamente com o carnaval, é uma das expressões mais ricas que temos no Brasil. Ainda mais por ter tanta influência indígena.
Ritmos, marchinhas e instrumentos, além de remeter à disciplina de Arte e História, são excelentes para trabalhar aspectos linguísticos e, mais uma vez, regionais. E as oficinas, além de tornar a aula mais dinâmica, também estimula criatividade, socialização e coordenação motora, assim como as danças e coreografias.
Então, como você vai apresentar a História, os símbolos, os ritmos, os personagens e a diversidade cultura contida nisso nas suas aulas? Opções não faltam, mas o mais importante, trabalhe de forma interdisciplinar!