Neurodiversidade na educação: como trabalhar com os diferentes tipos de padrões cerebrais?

Todos temos formas específicas de pensar, aprender, resolver problemas, tomar decisões e usar o conhecimento que adquirimos ao longo da vida. Mas, de modo geral, a maioria das pessoas possui modos de funcionamento cerebral semelhantes – por isso, são chamadas de neurotípicas.

Em algumas pessoas, no entanto, esse modelo de cognição é um pouco diferente – elas são chamadas, tecnicamente, de neurodivergentes, e merecem atenção especial da educação. Elas possuem algum transtorno do neurodesenvolvimento, como autismo, TDAH ou diferentes distúrbios de aprendizagem. 

Inclusão não é moldar, é considerar diferentes visões

Nos últimos anos, muito tem se estudado sobre terapias e modelos de ensino que apoiem as pessoas neurodivergentes em relação à inclusão e à promoção da cidadania. 

Porém, uma outra vertente de estudo vem ganhando força nas Neurociências: a de entender como os neurodivergentes podem contribuir com ideias inovadoras no ambiente em que estão inseridos. 

Como eles possuem um modelo cognitivo diferente, eles absorvem as informações, pensam em soluções e usam a criatividade de um modo também distinto. Logo, podem trazer ideias e soluções que os neurotípicos ainda não tiveram. 

É preciso ter em mente que o conceito de neurodiversidade tem a ver com a percepção de que pessoas “diferentes” não precisam de “cura”; elas possuem um modo próprio e único de ver o mundo e, para expor todo o seu potencial, precisam de ajuda, acolhimento, ambientes preparados e ferramentas específicas.

O ensino precisa considerar as potencialidades

Todo educador deve conhecer os prejuízos que cada uma das condições que relacionamos acima oferece ao indivíduo. Elas, por certo, devem ser consideradas, pois permitem a criação de adaptações que vão facilitar a vida do estudante.

No entanto, é muito importante que as atividades sejam pensadas abrangendo seus talentos específicos e únicos. Hoje em dia já se sabe, por exemplo, que neurodiversos possuem dons que vão ao encontro da tecnologia da informação, do empreendedorismo e da ciência. Então, por que não criar aulas baseadas nesses conhecimentos? 

Além de facilitar o processo de aprendizagem, é uma forma de preparar essa criança ou jovem para se destacar em situações futuras, fora da escola e no mercado de trabalho.

O poder no pensamento inovador de pessoas neurodivergentes

Quando pensamos em figuras como Henry Ford e Thomas Edison, logo os associamos aos seus inventos e às contribuições que deram à sociedade. Pouca gente sabe, no entanto, que eles tinham mais em comum do que apenas uma genial mente inventiva. Eles também possuíam transtornos como TDAH – ou seja, eram neurodiversos.

Winston Churchill, por exemplo, tinha um distúrbio de conduta e um problema de fala. Já Henry Ford tinha dificuldades de aprendizagem, enquanto Thomas Edison apresentava sinais claros de TDAH. Agatha Christie, uma das maiores escritoras de todos os tempos, tinha dislexia. 

Essa é a melhor prova de que estimular corretamente crianças e jovens com TDAH, autismo, dislexia e outros transtornos semelhantes pode abrir portas com seu potencial inovador em muitas áreas. Todas essas personalidades tinham – apesar de todas as dificuldades – pontos fortes e um talento único.

O futuro exige mentes diversas, tudo começa na escola

Se voltarmos nosso olhar para as necessidades do mercado de trabalho, as exigências dos novos profissionais e as mudanças tecnológicas, perceberemos com mais clareza como a neurodiversidade será importante para o futuro.

É sabido, por exemplo, que pessoas com autismo ou TDAH têm grande afinidade com tecnologia. Ambos os perfis, inclusive, possuem um sintoma chamado hiperfoco. O hiperfoco ocorre quando esses indivíduos se deparam com algo que lhes é muito estimulante. Então, por mais que a desatenção possa ser um problema comum nesses casos, existem alguns temas específicos que retêm sua atenção de forma muito intensa.

O mais interessante é que, quando estão trabalhando em um assunto que estimula o hiperfoco, TDAHs e autistas são capazes de manter um foco muito maior do que um neurotípico. 

Isso, sem contar que, assim como os autistas, os indivíduos com dislexia têm uma excelente capacidade para reconhecer padrões. Também são perfeccionistas, possuem excelente raciocínio lógico e habilidades especiais com Matemática. Tudo isso também deve ser considerado e estimulado nessas crianças.

Estimulando habilidades de neurodiversos na sala de aula

Sabendo dessas habilidades dos neurodivergentes, os professores devem buscar os assuntos de interesse da criança ou do jovem. E o trabalho escolar deve priorizar esses temas, sem perder de vista outros aprendizados.

É necessário ter em mente que não precisamos de um único tipo de estudante. Em uma escola precisamos ter variedades de mentes, diversas perspectivas, ou seja, uma infinidade de pontos de vista. 

Com isso, um único trabalho, projeto, problema ou discussão terá muitas soluções oferecidas, o que é fundamental para o mundo em que vivemos, onde as coisas mudam com tanta rapidez. 

Adaptações são necessárias

É preciso, no entanto, fazer um adendo. Falamos sobre o educador criar aulas baseadas nas potencialidades do estudante, não nos déficits. Isso não quer dizer que não seja importante conhecer a fundo esses déficits. Muito pelo contrário: eles representam desafios reais para as crianças e devem ser encarados com total seriedade pelos professores e pela família. 

Com as ferramentas e encaminhamentos corretos, tais desafios podem ser muito menos impactantes para elas. Para isso, os professores devem se cercar de informações e do apoio de profissionais especializados, como psicopedagogos e médicos.

Tipos de adaptações para estudantes neurodiversos

O aluno com autismo, por exemplo, pode apresentar alta sensibilidade a estímulos visuais e auditivos. Então, encontrar formas de diminuir o ruído ambiente, bem como a claridade em computadores, pode ser de grande ajuda. 

Alguns estudos mostram que trocar a cor do plano de fundo dos computadores também é uma maneira de diminuir estímulos visuais. Os tons pastéis são os que melhor se adaptam às necessidades de pessoas com autismo. 

Crianças com dislexia enfrentam dificuldades no momento da leitura, especialmente quando o texto é escrito em letra cursiva. Uma boa solução é utilizar textos impressos, com tipos-padrão de imprensa. Existem fontes específicas, as chamadas fontes não serifadas, que tendem a ajudar ainda mais. Em programas como Word, o professor consegue até mesmo baixar uma fonte feita exclusivamente para esse fim – seu nome é Open-Dyslexic.

Criar atividades que sigam uma hierarquia visual é outra forma de facilitar o processo de aprendizagem de estudantes neurodivergentes. Principalmente em aulas expositivas, com slides, por exemplo. 

Inclusive, inserir imagens e ícones pode ajudar nesses casos, mesmo que eles não tenham ligação direta com o significado do texto.

Onde encontrar ferramentas para aplicar a neurodiversidade?

Como podemos perceber, algumas alterações ambientais não necessitam de muitos recursos. Em outros casos, programas básicos, como os da Microsoft (Word ou PowerPoint), oferecem recursos interessantes.

É importante sempre buscar por mais recursos pedagógicos inclusivos. A Opet INspira é uma plataforma educacional da Editora Opet que conta com diversas ferramentas para auxiliar os educadores em processos como esse.

Opet INspira e a inclusão de crianças neurodiversas

Com os recursos da plataforma, o professor consegue criar trilhas de aprendizagem e roteiros de estudos totalmente adaptados às necessidades da criança. Além disso, há ferramentas digitais que contribuem com o ensino de estudantes neurodiversos, como quizzes e instrumentos para gamificação.

Nela, o educador encontra também, um Menu de Acessibilidade. Um espaço onde é possível escolher e selecionar funções personalizadas aos usuários, como teclas de navegação, leitor de página, tamanho do texto e do cursor, espaçamento de texto, contraste, entre outros.

Para acessar a plataforma é preciso que a escola seja conveniada, sendo necessário ter usuário (login) e senha individual. 

Ao fazer isso, os educadores encontrarão um espaço para a criação de aulas que estimulem os talentos das crianças com diversos transtornos, bem como maneiras de diminuir os desafios causados por qualquer déficit que possam ter.